O nosso interesse pelos sonhos já data de muitos milênios, há registros de civilizações que acreditavam que esta produção psíquica possuía um caráter premonitório, de forma que até os dias de hoje os sonhos são envoltos destas expectativas místicas. O fato é que a interpretação dos símbolos oníricos – que aparecem nos sonhos – intriga o ser humano a ponto de instigar especulações cientificas e também do senso comum social (KAST, 2010; SHAMDASANI, 2011).
Em psicologia analítica, tendemos a considerar os sonhos como uma espécie de radiografia, que informa de dentro para fora o que está ocorrendo com os processamentos psíquicos. Da mesma maneira que um médico se apoia em exames de laboratório para avaliar a situação de saúde de um paciente e testar hipóteses diagnósticas, um sonho pode cumprir para o psicólogo uma função equivalente, expressando como está estruturada certa situação ou certo momento de sua vida (FILLUS, 2013; GAMBINI, 2008).
A primeira vista, os sonhos parecem banais e aleatórios – o que de fato são se os considerarmos de uma perspectiva racional e linear, pois se utilizam de uma linguagem simbólica e abstrata, expondo muito além daquilo que a observação breve consegue prever. Assim, o trabalho com este material é delicado, exige paciência e flexibilidade, para que seja possível entrar em contato e compreender os aspectos emocionais profundos das experiências que vivenciamos em nosso dia a dia.
Esse trabalho exige certo comprometimento, para prossegui-lo, o adequado é que se tenha um caderno de registros de sonhos, os quais serão anotados logo depois do despertar da manhã e descritos com a maior quantidade de detalhes possíveis de recordação. Esse ritual matinal auxilia a treinar a nossa memória para o mundo psíquico noturno, de forma que aos poucos passamos a se relacionar e a lembrar destes conteúdos com uma frequência significativa. Na medida do interesse do paciente, este material pode ser levado para a terapia, onde será trabalhado.
A importância desse trabalho é notada na vida cotidiana, em sua influência nas elaborações mentais e na disposição afetiva. Contudo, os sonhos são então uma ferramenta essencial para o processo analítico, acolher as imagens oníricas se torna instrumento básico para o autoconhecimento.
REFERÊNCIAS
FILLUS, M. A. O desenvolvimento do ego infantil expresso nas imagens oníricas de crianças. 161 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Estudos Pós-Graduados em
Psicologia Clínica – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013.
GAMBINI, R. A Voz e o Tempo: reflexões para jovens terapeutas. São Paulo: Ateliê Editorial. 2º ed. 2008.
KAST, V. Sonhos: a linguagem enigmática do inconsciente. Petrópolis, RJ: Vozes. 2010.
SHAMDASANI, S. Jung e a Construção da Psicologia Moderna: o sonho de uma ciência. Aparecida, SP: Idéias & Letras. 2011.