Grandes tragédias como a mais recente ocorrida em Brumadinho (MG) envolvem muitas vítimas, de diferentes formas. É ainda mais evidente nesses momentos, em que entramos em contato com o real da morte, aquilo que escapa da mera compreensão intelectual e desperta afetos que tentamos evitar no cotidiano, pois são sempre desagradáveis e fontes de desprazer e angústia. As vítimas que tiveram contato direto ou indireto com o desastre da barragem de Brumadinho podem sofrer de diversas psicopatologias, entre elas o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT).
O Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) é um distúrbio da ansiedade que caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas físicos e psíquicos decorrente de o portador ter sido vítima ou testemunha de situações traumáticas ou de atos violentos que representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros.
Quando o TEPT é desencadeado por alguma vivência traumática, a pessoa afetada por esse transtorno revive constantemente o ocorrido, podendo ter flashbacks, recordações e sonhos angustiantes, dificultando assim a elaboração de experiências geradoras de sofrimento. Também é comum a esquiva e o isolamento social, pois a pessoa foge de situações que possam despertar lembranças traumáticas. O sujeito entra num ciclo vicioso em que não consegue escapar dessas revivescências.
“A repetição de algo essencialmente desagradável e que causa sofrimento é debitado na conta de uma pulsão mais primitiva que o princípio do prazer: a pulsão de morte […] A repetição então seria a reatualização contínua desta pulsão de morte. Sua função seria a tentativa contínua de reduzir o trauma, endireitá-lo, integrá-lo à ordem simbólica. Porém como se trata de algo impossível de ser simbolizado (em última instância a própria morte), essa repetição se torna inoperante e gera um automatismo que acaba por se perpetuar.” (PROTA, s.p.).
Não só grandes tragédias podem causar esse transtorno, mas situações a que estamos expostos todos os dias. Buscar ajuda qualificada de um profissional é essencial nesses casos. O psicólogo pode ajudar na elaboração das experiências traumáticas, possibilitando assim a libertação da repetição dessas experiências e a volta do funcionamento psíquico normal do indivíduo.
Guilherme Rocha de Toffol
CRP 08/27454